A figueira (Ficus carica L),
provavelmente originária do Oriente Médio, foi trazida ao Brasil pelos
portugueses logo no século XVI. E uma pequena árvore frutífera da família das
moraceas, que exige tratos culturais intensos, principalmente quando a produção
é destinada ao consumo de frutos frescos. O cultivo em grandes áreas é
considerado hoje inviável, porque requer muita mão-de-obra nas várias
operações, que são a poda seca de inverno, uma poda verde durante o verão ou o
período vegetativo, o controle de invasoras, adubações e colheitas freqüentes.
Mas o custo de produção é relativamente baixo comparado com outras frutíferas,
porque ela é atacada basicamente por uma única doença, a ferrugem, que pode ser
controlada com aplicações de fungicidas cúpricos (à base de cobre) a cada 25 ou
30 dias ou algumas pulverizações de calda bordalesa. Sendo uma cultura de clima
temperado, encontra condições ideais no Estado de São Paulo, na região de
Valinhos, onde suas plantações têm em média 10 ha. Essas condições ideais não
se limitam a fatores climáticos e de solo. Dependem da disponibilidade de
irrigação em períodos de estiagem (a irrigação se faz por aspersão), da
existência de equipamentos usados também na olericultura (como no caso de
moranguinhos) e da facilidade de comercialização, pela existência de indústrias
próximas e pelo mercado consumidor da Grande São Paulo.
Clima e solo
Sua área típica de produção
(clima subtropical) seria do Rio Grande do Sul ao Sul de Minas, mas, como não
exige muito frio, é cultivada também em áreas tropicais, como no VaIe do São
Francisco, para a produção de passas. Ali, com irrigação, consegue-se duas
colheitas por ano. No Rio Grande do Sul há o risco de geadas tardias. Adapta-se
aos mais variados tipos de solos, à exceção dos terrenos encharcados. Os solos
muito arenosos facilitam a disseminação de nematoides, não retêm devidamente a
umidade e estão sujeitos à perda de fertilidade.
A mais plantada no Brasil é a
roxo-de-valinhos, que é também conhecida por vários outros nomes, entre eles roxo
comum, comum, roxo-de-espírito santo, roxo-de-bruxelas, brown turkey e san
piero. O fruto pesa de 70 a 100g, quando maduro (verde, pesa cerca de 20 g) e é
muito bem aceito pelo consumidor e pelas indústrias. Quando maduro, tem
coloração externa roxo-escura sobre fundo verde e polpa rósea-violácea, sabor
doce e agradável. Maduros, os frutos podem ser consumidos ao natural ou usados para
fazer figadas e geléias; "inchado"ou "de vez" servem para
fazer o figo"rami"; e verdes são usados para fazer compotas e doces
cristalizados. Outra variedade, de menor interesse no Brasil, é a pingo-de-mel,
de cor externa amarelo-esverdeado e de polpa âmbar. Na Itália; essa variedade
tem grande aceitação no fabrico de figo-passa, e no Canadá é utilizada para o
consumo ao natural e na indústria de compotas e secagem (passas).
Tratos culturais
E preciso capinar o terreno e
manter uma camada espessa de cobertura morta ao redor da figueira para controlar
as invasoras. Para tanto, usam-se bagaço de cana e capim cortado. No Rio Grande
do Sul vem-se testando plantas alelopáticas (que inibem o crescimen-to de
alguns inços), como o trevo, com ótimos resultados.
Podas
A figueira tem um curto período
de dormência no inverno, quando as folhas caem. Nesse período é feita uma poda,
deixando-se os lançamentos (ramos) com quatro nós e quatro entre nós. Em cada
nó há uma gema. Se houver geada prematura, os brotos dos nós são queimados e
faz-se nova poda. No Rio Grande do Sul, onde há risco de geadas tardias, a poda
de inverno é feita em agosto. Os ramos podem ser utilizados para propagação ou
vendidos com o mesmo fim. A poda de verão é apenas um desbrote. A poda de
inverno, ou de frutificação, é importante não só para o aumento de produção mas
também porque ajuda a eliminar a brota dos ponteiros e mantém a planta baixa,
facilitando a aplicação de calda bordalesa para combater a ferrugem.
Pragas e doenças
O maior problema são os
nematoides. Além deles, existe a ferrugem, combatida com calda bordalesa ou
fungicidas cüpricos, e a broca-dos-ponteiros, que tem um controle físico
barato, feito com armadilhas luminosas. A ESALQ, de Piracicaba, desenvolveu uma
armadilha que consiste numa lâmpada fluorescente negra, com capacidade para cobrir
4 a 5 ha. A armadilha é ligada de novembro a março, antes da incidência da praga,
porque depois que a broca penetra no ramo é difícil de ser controlada. A broca
é uma praga de hábitos noturnos, e, quando a luz é acesa, a fêmea bota seus
ovos nela, em vez de depositá-los na figueira.
Colheita
Nos pomares comerciais, para consumo ao
natural, o figo é colhido"de vez" (quando começa a perder a consistência
firme e muda de cor). No Rio Grande do Sul colhe-se o figo verde, do final de
dezembro até abril ou início de maio, e o maduro em janeiro. Em São Paulo, a
colheita vai de novembro a junho, com maior concentração de dezembro a maio.
Nas regiões mais quentes é possível colher figos o ano todo.
Produção e produtividade
A figueira começa a produzir com 1 ano. Com
espaçamento tradicional (2,50 x 5,00 m) produz 1,5 t/ha no primeiro ano; 3,5
t/ha no segundo; e 8 t no terceiro. No 6º ou 7º ano atinge a estabilidades
podendo chegar no máximo a 21 t/ha. No sistema de plantio ultra denso, a vida
útil da planta é mais curta (normalmente ela produz por 18 anos ou mais), mas a
produtividade é maior, podendo chegar, já no quarto ano, a 33 t/ha. A produção
média no Rio Grande do Sul é de 10 t/ha de figos verdes. Segundo o Instituto
Agronômico de Campinas (IAC), a produtividade normal no Estado São Paulo é de
20 a 22 t/ha de frutos maduros ou inchados e 10 t/ha de frutos verdes.
Composição por 100 g
Figo fresco: 62 calorias, 1,2 g
de proteínas. 50 mg de cálcio. 30 mg de fósforo, 0,5 mg de ferro, 10 mmg de
vitamina A, 0,04 mg de vitamina B1, 0,05 mg de vitamina B2 e 4 mg de vi-tamina
C. Figo cozido: 76 calorias, 0,2 g de proteínas, 9 mg de cálcio. 5 mg de fósforo,
0,1 mg de ferro, 2 mmg de vitamina A, 0,01mg de vitamina B1, 0,01 de vitamina
B2, e 1 mg de vitamina C.
FRANCO, J.A.M. ; PRATES, H.S. Cultura da figueira. Campinas: COT-CATI, 1975. 8 p.
LEONEL, Sarita, TECCHIO, Marco Antonio. Produção da figueira submetida a diferentes épocas de poda e irrigação. Revista Brasileira de Fruticultura, v.30, p.1015 - 1021, 2008.
Antônio Roberto Marchese de Medeiro, Embrapa clima temperado, Circular Técnica 35, Figueira (Ficus carica l.) do Plantio ao Processamento Caseiro.
0 comments :
Postar um comentário