O tomateiro (Lycopersicum esculentum Mill.), provavelmente originário das regiões andinas do Peru, Bolívia e Equador é plantado em cerca de 2,5 milhões de hectares espalhados pelo mundo, com uma produção mundial acima de 50 milhões de toneladas. No Brasil, é a segunda hortaliça em valor de produção, só superada pela batata. Sem doenças ou ataques de pragas, o tomateiro poderia ser uma cultura semi-perene, mas nas condições brasileiras é uma cultura anual, com ciclo que pode durar quatro a sete meses, do plantio até a produção de novas sementes, incluindo um a três meses de colheita.
Clima e solo
Pelas suas origens, o tomateiro prefere o clima tropical de altitude ou subtropical, fresco e seco, com alta luminosidade. Precisa também de uma Boa variação de temperatura entre o dia e anoite (20 a 25°C durante o dia e 11 a 18°C à noite). Temperaturas acima de 35°C prejudicam a frutificação, e as muito baixas retardam o crescimento da planta e afetam a germinação. Resumindo, o tomateiro não suporta extremos de temperaturas, produzindo frutos malformados, ocos, leves e de mau aspecto, no frio ou no calor em excesso. Não suporta geadas. Chuvas excessivas e prolongadas também prejudicam o desenvolvimento do tratamento do tomateiro e sua produção. Além dos efeitos do excesso de água nas raízes, o excesso de chuvas, assim como a umidade do ar muito elevada, favorece a incidência de doenças.
Os solos não devem ser excessivamente argilosos, compactos ou com tendência para o encharcamento, embora deva haver boa disponibilidade de água nas proximidades. A planta é tolerante à acidez, mas produz melhor se o terreno for corrigido para um pH 6,0 a 6,5. O tomateiro precisa ainda de cálcio e magnésio. Ele não pode ser plantado em terrenos inclinados expostos a ventos frios ou em gargantas e baixadas onde se acumulem massas de ar frio. Quando o plantio é feito em sulcos, convém adubar o terreno com esterco de curral, na proporção de 2 kg por metro linear de sulco, ou então 0,5 kg de esterco de galinha.
Uma recomendação importante é não plantar tomate em terreno que tenha sido cultivado com plantas de sua família, as solanáceas nos últimos três anos. As principais solanáceas são, além do tomate, a batata, o pimentão, as pimentas, a berinjela e o jiló.
Variedades
Há muitas variedades cultivadas, com frutos de tamanho pequeno (até 90 g), médio (90 a 180 g) e grande (mais de 180 g). Eles costumam ser enquadrados em dois grupos: o santa cruz, com frutos normalmente biloculares (que têm duas cavidades), de formato arredondado, alongado ou oval, e peso médio de 70 a 110 g; e o grupo salada ou caqui, de frutos multiloculares (com muitas cavidades), arredondados ou achatados e com peso médio de 200 a 250 g. Os do grupo santa cruz são mais resistentes ao manuseio, transporte e armazenamento. As principais variedades do grupo santa cruz são a angela hiper e angela gigante, resistentes ao vírus Y e tolerantes à podridão apical e rachadura; a kada, tolerante à podridão apical e à rachadura; a santa clara, semelhante à angela; rio fuego e rio grande, com frutos um pouco menores que as demais. Segundo os mesmos pesquisadores, as mais recomendáveis do grupo salada são a floradel e a tropic. Para cada região há variedades mais indicadas pelos órgãos oficiais. Em São Paulo, por exemplo, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) desenvolveu a angela gigante I 5.100, do grupo santa cruz, e recomenda ainda a santa clara, a angela hiper, a santo Antônio, a kada, a yokota ou sakai, a fuji, a são sebastião e a miguel pereira, todas do mesmo grupo, e mais algumas do grupo salada: oishi, ogata fukuju, pindense, tropie, floradel e carmel.
A Emater/Acaresc e a Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária (Empasc) indicam para Santa Catarina, além das variedades mais cultivadas (kada e yokota),' a são pedro, a santo antônio, a sakai melhorado e a iguaçu, No Rio Grande do Sul, o Centro Nacional de Pesquisas de Fruteiras de Clima Temperado (CNPFT) indica a flora-dade e as variedades rasteiras (cultivadas sem tutoramento) petornech, UC-134, euromech, petogro-II e UC-82. Em Minas Gerais, a Emater indica as variedades do tipo santa cruz, angela L.c. gigante, angela gigante G-51, angela gigante I 5.100, angela super, angela hiper, kada, santo antônio, miguel pereira, ozawa 2, príncipe gigante AG 590, yokota, kazue, são pedro, fuji e sakai; e as do tipo salada, tropic, floral ou floradel e coração da bocaina. Para a Amazônia, há o tomate rasteiro C-38, tratado em verbete à parte, devido às condições específicas de plantio. No Espírito Santo, em Cachoeiro de Itapemirim, a prefeitura municipal desenvolveu uma variedade, roqueso, que já dispensa o uso de agrotóxicos. (Ver foto das variedades no final do artigo)
Propagação
Há vários métodos para a propagação dos tomateiros. O mais simples e menos utilizado no Brasil é o plantio direto; outro é a produção de mudas em copinho. Também é possível produzir mudas em sementeira ou em sementeira e viveiro. O método de plantio em copinho vem ganhando destaque porque tem como principal vantagem evitar certas doenças, como a virose mosaico-de-fumo, transmitida pelo manuseio da muda em viveiro ou sementeira por pessoas que fumam: a mão dessas pessoas é contaminada pelo fumo e assim surge a doença, na repicagem ou no transplante. Há ainda a vantagem de produzir mudas prontas para o plantio em 15 a 25 dias, enquanto os outros métodos levam de 25 a 50 dias. E a colheita do tomate plantado por meio de muda em copinho, assim como no caso de plantio direto, inicia-se aos 85 ou 90 dias, enquanto pelos outros processos demora mais de cem dias. Os copinhos são feitos de jornal, cortado em tiras de l1 cm de largura. Enrola-se o jornal numa garrafa, até 7 cm de altura, e dobram-se os 4 cm que sobram; em seguida comprime-se o fundo da garrafa na mesa, para fixar a dobra, e retira-se o copinho, que deverá ter 7 x 6 cm. Com 50 kg de jornal fazem-se 20000 copinhos, quantidade suficiente para plantar 1 ha. Os copinhos, em seguida, são cheios com uma mistura de terra fértil com esterco, colocam-se três a cinco sementes sobre a terra e cobre-se com 1 cm de terra fina ou palha de arroz. Para encher os 20.000 copinhos necessários para 1ha, são necessários 4 000 l da mistura de terra e esterco. As sementes são leves, em média trezentas delas pesam 1 g, e são necessários 250 a 300 g para os 20 000 copinhos. As mudas devem ser irrigadas diariamente, com regador de crivo fino (uma ou duas vezes por dia). Em alguns dias, aparecem as duas primeiras folhas embrionárias e depois a primeira definitiva. Em seguida, faz-se o desbaste, deixando apenas uma ou duas plantas por copinho. As plantas excedentes devem ser cortadas rente a terra e não arrancadas, para não prejudicar as raízes das plantas que ficam. As sementes podem ser compradas de fonte confiável ou extraídas pelo próprio produtor. Para a extração, corta-se o tomate transversalmente, esmaga-se com as mãos a parte carnosa junto com as sementes, para fermentação em recipiente não metálico, e deixa-se em local fresco e som- breado por 72 a 96 horas, agitando-se uma vez por dia. Depois, as sementes devem ser lavadas com água fervida e, em seguida, colocadas em outra vasilha, também com água fervida, para se saber quais as sementes que estão boas. Aquelas que boiarem devem ser eliminadas.
Plantio
Nos lugares de clima mais quente, de baixa altitude (até uns 400 m), o plantio deve ser feito de fevereiro a julho; nos mais frescos, não sujeitos a geadas, especialmente os com mais de 800 m de altitude, pode-se plantar o ano iodo. Nos sujeitos a geadas, planta-se em julho-agosto ou dezembro e início de janeiro. Em caso de incorporação de adubo-verde para o plantio, ele deve ser feito um mês antes.
Faz-se o plantio em sulcos com 15 cm de profundidade e 40 cm de largura ou em covas de 20 x 20 x 20 cm. O espaçamento entre as plantas pode ser de 50 cm, com uma planta por cova, ou 70 cm, com duas plantas por cova. A distância entre linhas deve ser de 1m. Para consumo industrial, em que não se leva em conta o tamanho dos tomates, pode-se reduzir o espaçamento entre as plantas para 20 a 40 cm. O tomateiro rasteiro é plantado em camalhões com 15 a 20 cm de altura.
Tratos culturais
Aconselha-se fazer a amontoa de terra junto às plantas quinze a vinte dias depois do plantio, formando camalhões nas linhas, com a terra amontoada. Com as plantas atingindo a altura de 25 a 30 cm, vinte dias depois do plantio (logo depois da amontoa), faz-se o tutoramento, podendo-se utilizar vários métodos. O mais comum consiste em estender, nos intervalos entre duas linhas, arame n°18, a altura de 1,70 ou 1,80 m, preso em mourões de 2 m de altura, cravados à distância de 15 a 20 m entre eles. Em seguida, fincam-se varas de 2,20 m rentes aos tomateiros, inclinadas em direção ao arame, cruzando com outra vara (geralmente de taquara ou bambu) sobre o fio de arame. Passa-se então outro fio de arame sobre os pontos de cruzamento e, com um pedaço de pau, enrolam-se os dois fios de arame entre si, entre as varas, de modo que eias fiquem fixas. Fazem-se cinco a sete amarrios durante a cultura. A cada dez ou quinze dias, faz- se o amarrio da planta à vara, para que ela cresça ereta. No máximo uma vez por semana, faz-se a desbrota, arrancando-se os brotos laterais com as mãos (é importante não fumar durante a operação). Não se deve usar instrumentos cortantes para arrancar os brotos, pois eles, às vezes infectados, costumam transmitir doenças. Para os tomates tipo salada (ou cáqui), aconselha-se outro método de tutoramento: amarrar as hastes em cinco fios de arame nº18, bem esticados, distantes 30 a 50 cm entre si, presos em mourões com distância de 4 a 5 m cada, como uma cerca de arame (não-farpado).
As capinas devem ser superficiais e feitas quando necessário, mas não depois de sessenta dias de plantio. A partir daí, as invasoras devem ser arrancadas com a mão. Em caso de seca prolongada é preciso irrigar os tomateiros. Percebe-se a falta de água quando algumas folhas começam a enrolar. A cobertura morta, com palhas ou capim seco , ajuda a manter a umidade do solo e quando fica amarelecida repele os pulgões e, com isso, diminui as viroses do tomateiro.
Pragas e doenças
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Traça do tomateiro |
As principais doenças são tombamento murcha-de-fusarium, requeima (fitóftoras pinta-preta ou altemária, septoriose, mancha-de-estenfílio, murcha-basteriana, cancro-bacteriano, talo-oco ou podridão-mole, vira-cabeça, mosaico-comum, amarelo-baixeiro, topo-amarelo e broto-crespo.
Rotação de culturas
Para diminuir o ataque de pragas e doenças e melhorar as condições do solo, aconselha-se a rotação com milho, alface, beterraba, aipo, vagem, ervilha, arroz, espinafre, brássicas (repolho, couves, agrião, nabo, rabanete, rúcula, brócolos, etc.) e gramíneas. A adubação verde também é recomendável .
Colheita
Inicia-se 80 a 115 dias depois da semeadura e pode prolongar-se por cerca de sessenta dias, dependendo das condições da cultura. O ponto de colheita depende da distância do mercado consumidor e das exigências desse mercado. No Rio de Janeiro, por exemplo, o tomate é comercializado já maduro, vermelho ou avermelhado, enquanto em outros locais, como Goiânia, ele é vendido, num estágio verde-maduro, em aparência verde, mas num ponto em que se pode cortá-lo sem prejudicar as sementes. Em São Paulo, o tomate deve estar num estágio intermediário. Para a produção de massa de tomate, o fruto deve completar sua maturação na planta.
Classificação e embalagem
Depois de colhidos os tomates, deve-se deixá-los em repouso por 24 horas, antes de colocá-lo nas caixas tipo K, que podem conter de 23 a 28 kg de tomate, conforme a variedade. A classificação para embalagem deve basear-se em três fatores. Primeiro, classifica-se por grupo: ao grupo 1 pertencem os tomates de formato alongado e ao grupo II os de formato globular (o tipo cáqui, ou salada). A classificação seguinte é por classes, conforme o tamanho. Tomate graúdo é o do grupo I com no mínimo 52 mm de diâmetro transversal e do grupo 11 com no mínimo 120 mm; o tomate médio, de 47 a 52 mm (grupo l) e 80 a 120 mm (grupo H): o pequeno, de 40 a 47 mm (grupo I) e o miúdo, de 33 a 40 mm (grupo I) e 50 a 80 mm (grupo 1 - neste grupo não existe a classe pequeno). Depois disso, há a classificação por tipo conforme a qualidade, que leva em conta a quantidade e o tipo de defeito. Há quatro tipos comerciais, sendo que o tipo I (extra) pode ter no máximo 7% de tomates com defeitos, desde que entre os tomates defeituosos não haja nenhum deteriorado, passado, pintado ou malformado (os defeitos que pode ter são: tomates rachados, manchados, ocados, com danos mecânicos ou mistura de cores). O tomate tipo 2 (especial) pode ter até 15% com defeitos, excetuando a deterioração. O tipo 3 pode ter até 25%, excetuando a deterioração, e o tipo 4 pode apresentar até 40% de frutos com defeitos (no máximo 2% deteriorados).
Composição nutricional por 100 g
In-natura: 21 calorias, 0,8 g de proteínas, 7 mg de cálcio, 24 mg de fósforo, 0,6 mg de ferro, 60 mmg de vitamina A, 0,06 mg de vitamina B1, 0,05 mg de vitamina B2 e 23 mg de vitamina C (o tomate tem 94% de água).
Massa de tomate: 39 calorias, 1,7 g de proteínas, 13 mg de cálcio, 34 mg de fósforo, 1,7 mg de ferro, 160 mmg de vitamina A, 0,09 mg de vitamina B1, 0,05 mg de vitamina B2 e 33 mg de vitamina C.
Suco de tomate: 19 calorias, 0,9 g de proteínas, 7 mg de cálcio, 18 mg de fósforo, 0,9 mg de ferro, 80 mmg de vitamina A, 0,05 mg de Vitamina B1, 0,03 mg de vitamina B2 16 mg de vitamina C.
Matéria muito boa, parabéns!
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